Havia 3 meses que ela não falara com Diego, nem se quer sabera notícias dele. Na verdade, desde o acontecido, Livia não falaria a com ninguém, a não ser com um amigo imaginário que havia criado para si. Sozinha, em seu quarto, Livia passara esses tempos trancada de tudo e de todos. Não conseguira voltar ao normal depois de tanto tempo sofrendo. Tentara, mas não conseguira nada de bom. Muito pelo contrário, parecia que a cada passo a frente, Livia dara 5 para trás. O choque havia sido demais para ela. Demais... Deitada, na sua cama macia de lençóis brancos, ela ficava a tarde inteira tentando apagar da memória aquela cena que a tanto maltratava. Não queria mais lembrar de nada, de ninguém. Não queria mais lembrar do cheiro dele em suas roupas, do tom de voz do seu sussuro em seu ouvido. Não queria mais sentir nada daquilo. Queria poder morrer de alma apenas, não de corpo de alma. Queria viver, porém, ser morta por dentro. Mandou sua mãe lavar todas suas roupas afim de apagar o cheiro do perfume de Diego. Assim como todos os lençóis foram mandados a lavanderia. Seu mural vermelho, com dezenas de fotos de amigos, dele, recordações, estava vazio agora. Ela havia queimado todos os tipos de recordações da sua vida com ele, ou com qualquer um que lhe desse a mínima lembrança dele. Livia havia emagrecido 7 quilos desde o fato. Bebia água por conta dos remédios que tomava depois que foi ao médico. Comia sob pressão de sua mãe, Leila, a qual poderia ser considerada uma heroína para sua filha. A salvou de um desastre.
Certa tarde, todos da casa sairam. Livia, acabara de tomar seu banho. Colocou sua roupa mais básica: short jeans e blusa branca. Deitou em posição fetal na sua cama, abraçada com seu travesseiro e ali começara mais um término de tarde. Como todos os outros desde aquela tarde.
Lívia tinha aulas pela manhã na faculdade. Cursava Farmácia. A tarde, ela trabalhava em uma farmácia próxima a uma praça que, ironicamente, era também próxima a casa de seu ex. Acabara de tirar sua tão sonhada carteira de habilitação e de presente, sua mãe lhe deu um carro velho para que ela começasse a ter a sua vida. Tudo em sua vida parecia perfeito.
Naquele dia, Livia foi dispensada do trabalho pois seu chefe perdera a mãe, por isso, a famácia não abriria. Não sabendo do acontecido com antecedência, ela resolveu fazer uma surpresa a seu namorado, como qualquer outra jovem faria naquela ocasião. Livia não era tão chegada a seu chefe mesmo, só estara ali a pouco tempo.
Atravessou a praça com seu fusca azul piscina. Parou o carro em frente ao prédio de Diego e como possui as chaves da porta do prédio, não haveria necessidade de tocar a campainha. Queria que a surpresa fosse mesmo surpresa. Subiu as escadas. Eram 3 andares até o apartamento de Diego, que não morava sozinho. Morava com sua avó e seu irmão. Sua mãe morava em outro estado e havia perdido seu pai a alguns bons anos. Ainda empolgada, com o coração acelerado de ansiedade, Livia foi tomada por uma sensação horrível. Sentiu que estava fazendo algo errado. Sentiu medo. Próximo ao andar de Diego, ouvira um silência anormal. Pensara que ele poderia não estar em casa. Olhou o relógio e eram 14 horas. Diego nunca saira de casa antes de dormir um pouco após o almoço. Chegou na porta, mas não tocou a campainha imediatamente. Pegou na bolsa um espelho, ajeitou seus cabelos curtos e pretos. Queria estar perfeita para ele.
Quase que como um sinal, quando Livia fora apertar o botão, ouviu algo quebrando na casa de Diego. Algo que parecia vidro. Logo após ouviu gritos. Gritos de mulher. Mas, eram gritos diferentes. Não eram gritos de alguém que se machucara. Eram gritos que ela nunca gostaria de ouvir naquele momento.
Toda a sua vontade, todo o seu calor natural parecia que havia desaparecido. Livia havia se tornado uma rocha. Uma rocha viva. Ali, sentada ao pé da porta, ela ficou durante 1 hora. Fora fria o bastante para esperar que tudo o que tivesse que ouvir, fosse ouvido. Fria o bastante para conseguir entrar logo em seguida porta a dentro.
Levantou, e apertou a campainha uma única vez. Dava para ouvir vozes cochichando algo lá dentro. Logo após outro silêncio e uma sequência de passos fortes. Era ele.
Diego abrira a porta vestido apenas de uma samba canção que ela havia lhe dado de Natal. Quase que juntos, ambos se olharam nos olhos. Livia, sem se quer demostrar alguma reação, ficou parada. Diego,imediatamente, fechou a porta, como que em um ato de desespero. Livia respirou fundo e entrou no apartamento. Tirou os sapatos calmamente, colocou sua bolsa emcima da mesa de vidro da sala e, interrompendo alguma fala de Diego, entrou em seu quarto.
Lá estava ela. Era gostosa, pelo menos. Loira, estatura mediana, pernas grossas, quadris largos. Brasileira. A tal "pirainha" ameaçou a dizer algo, enquanto tentava se vestir, mas demorou demais. Livia, muda, pegou todas as roupas de baixo da moçoila e tacou pela janela. Não importou se aquilo alguma hora iria voltar contra ela. Apenas jogou e mandou de maneira bem baixa, a senhorita se retirar do apartamento. A garota saiu, se despedindo de Diego com um selinho. Diegou a afastou, como se aquilo fosse resolver alguma coisa naquele momento.
Enfim sós. Ele fechara a porta, passando a chave. Conhecia bem Livia e sabia que ela não faria nada contra ele em uma situação dessas. Depois de alguns instantes, ambos em silêncio, Livia senta ao chão e chora. Chora profundamente. Ela acabara de perder toda sua esperança de vida. De felicidade. Havia entregado sua alegria toda nas mãos de alguém. Aquele choro significara várias coisas, sentimentos. Livia queria morrer de tanto desgosto que sentia naquele momento. Como pudera deixar alguém fazer aquilo com a sua vida? Como entregara sua vida assim, tão facilmente? Livia queria morrer de verdade.
Ela pediu que Diego se vestisse, sem deixar que ele dissesse qualquer coisa. Abriu a porta do apartamento e lhe avisou que o esperava lá embaixo, dentro do carro. Ela não queria estar naquele lugar, sentindo o cheiro de outra onde deveria apenas ter o seu cheiro.
No carro, ela pedira explicações, mas tudo o que ele dissera não fazia menor sentido. Mentiras, e mais mentiras. Livia se cansou e abandonou Diego na beira de uma estrada qualquer. Também não se importara nem um pouco se aquilo a prejudicaria algum dia. E assim, ela foi para casa. Sem ao menos conseguir expressar alguem raiva, alguma reação natural nessa situação. Tera vontade, mas a sensação de perda de chão era maior e não a deixara fazer nada. Sentimento esse que a domina desde esse dia.